- toc toc toc.

Eu bati na porta e ele pediu para eu ter calma, que meu pedido já está à caminho. Assinado: "Coração!"

- de cabeça para baixo.

Eu fiz o que tinha que fazer e me arrependo apenas de ter perdido minhas horas, mas a cada dia estou me tornando a pessoa que eu deveria ter sido há muito tempo...

"Parece que tudo virou..."

- maturidade.

Ela acontece quando você se decepciona profundamente, ao ponto de pedir para parar de respirar, mas você empurra com bastante força para sair desse lugar escuro, humido e solitário, enxuga as lágrimas, não discute, não cobra, não busca vingança, porque sabe que o universo é vivo e tem tudo o que é preparado para dar, com muita força; sem errar. Você apenas se afasta, muda a consideração, coloca cada um no seu devido limite e segue a vida em paz e em silêncio, sem ninguém saber se está bem ou não.

"Ela não depende do outro."

- um dia desses...

A lagarta disse: "um dia eu voarei!" E todos os animais que estavam ali riram dela...

"Menos a borboleta..."

- só eu sei...

Foi preciso ter muita força para ser quebrado em um milhão de pedaços...

"Continuar em pé, com sorriso e não fazer nenhum barulho..."

- me desculpa...

Eu quero me pedir desculpas por todas as vezes que eu resolvi me culpar, mesmo sabendo que eu não tinha culpa alguma. Por todas as vezes que duvidei da minha intuição, mesmo sabendo que ela estava certa; ela sempre esteve. Por todas as vezes que duvidei da minha capacidade de amar, por causa do meu afeto que não foi o suficiente para fazer alguém permanecer para sempre. Por eu me submeter a muitas situações que não estavam me fazendo bem, só pelo fato de eu ficar escravo de um pequeno sentimento do qual alguém tinha me dado e em algum instante me fez bem. Por eu ter dado toda minha compreensão, todo meu perdão, toda minha energia, toda minha força, todo meu respeito, toda minha felicidade, toda minha fidelidade e todo meu eu para todos ao meu redor, menos para mim. Por eu ter carregado a culpa de coisas que fizeram comigo e eu me sentir a pior pessoa do mundo por algo que eu não fiz.

"Me desculpa, meu eu... por favor, me perdoe..."

- monstro.

"As pessoas não precisam me respeitar, elas não precisam ser gratas, não precisam ser carinhosas, não precisam me amar, não precisam dar opiniões, não precisam fazer nada; não preciso de vocês... A vida é MINHA!!! Apenas vou usar elas e culpar elas por tudo que sou e tudo o que me tornei", disse ele... Mas quando você parar, no final da noite, antes de dormir, olhar no espelho e ver quem realmente você é, bem lá no fundo, naquele fundo escondido que até você se esconde de você mesmo e nega até o fim...

"É melhor você amar e sentir orgulho do que você se tornou..."

- está tudo bem, agora...

Um belo dia seu coração acorda bem, seu respirar antes de dormir está calmo, seus olhos estão secos, suas sobrancelhas não estão forçadas, o espelho não está mais coberto, a janela está aberta e sem grades agora, o sono voltou a se manifestar, os vários hematomas na perna sumiram, a mão direita não está mais sangrando todos os dias e elas não estão mais nos olhos e nem fechadas, o banho voltou a ser divertido, o medo foi embora, e nada mais dói.

"Tudo volta ao novo normal..."

- não confunda...

A oportunidade não corrompe ninguém. Ela apenas piora quem já é ruim ou melhora quem já é bom...

"Em qual lado você está?

- olhando para o espelho.

Desde bem pequeno eu estou acostumado com o sofrimento e abraçar tudo (até mais do que aguento) só para ver todos ao seu redor bem. Porém, eu sempre esqueci de mim, me deixando para o último plano da semana (se sobrasse tempo) que se tornou hábito essa dor no coração, algo que se tornou físico; meu organismo já esperava somente o sofrimento. Quando tiveram vários momentos em que eu poderia desviar o foco da dor e aproveitar a felicidade, eu tinha crises de ansiedade bem fortes, mas eu deixava introspectiva, e por disfarçar bem, eu nunca falei para absolutamente ninguém (ninguém mesmo), porque eu tinha medo de acabar rápido essa felicidade. Mas existiu um momento que precisei colocar ponto final nesse sofrimento de infância e decidi estar sozinho e acabar com todo esse sofrimento e me conhecer. Teve esse dia que eu resolvi sair mais cedo do trabalho, direcionei meu corpo de frente para o espelho, com as toalhas ainda tapando o espelho para eu não me ver mais, tirei a toalha de olhos fechados, tapados com as mãos, abri os olhos bem lentamente, e fui tirando dedo por dedo, até tirar toda mão... eu me encarei de frente, com bastante medo, de olhos inchados, vermelhos e molhados, os lábios tremendo e disse: "olá, prazer, eu sou o escritor e a partir de agora você será um novo escritor e tudo o que você passar na sua vida..."

"... vai passar..."

- paradoxo.

Eu sou paradoxo. Eu penso em coisas tristes várias vezes, mas eu sou feliz. Eu não gostava muito de mim, mas agora eu amo a pessoa que me tornei. Eu afirmo que não me importo, mas eu me importo demais; até o tutano de meus ossos. Eu procuro por atenção, mas eu sempre rejeito todos que aparecem em meu caminho. Eu curei muitas pessoas, mas me quebrei para consertar elas. Eu amo ouvir, mas eu nunca conto o que está dentro de mim. Posso estar profundamente triste, mas sempre me verão sorrindo. Eu amo estar em minha casa, no silêncio, e amo dançar embaixo do chuveiro...

"Até acabar com a água da cidade."

- cenários e pessoas.

Certo dia me questionaram que eu passei do lado dessa pessoa e não cumprimentei. Deixa eu explicar uma coisa sobre mim: quando estou andando na rua eu sou desassociado, imerso em pensamentos, distraído ouvindo vozes na minha cabeça, talvez eu te encare nos olhos, mas estou com os pensamentos bem longe, provavelmente eu até esqueci o que iria fazer ou errei o caminho, estou imaginando cenários, cantando em voz alta ou dançando, preocupado em não tropeçar e cair e todos ao meu redor são vultos! Eu apenas desvio das pessoas para não atropelar...

"E não ser atropelado..."

- acordes, então, desafinados.

E, hoje, as histórias tristes que chegaram na minha vida, apenas viraram melodias velhas, jogadas embaixo da gaveta empoeirada e mofa, em tons de fá menor, dos quais não tocarei nunca mais.

"Tomara que em outra vida seja tudo diferente..."

- um pequeno silêncio.

Eu não precisei contar meu lado da história dessa vez...

"Deixe que o tempo fale por mim..."

- escreva melhor.

Se, toda hora você ficar fazendo rascunho da sua vida, pode ser que não sobre tempo o suficiente para passar tudo a limpo. Então tome cuidado com sua ida, pois pode ser que você só entenderá na volta...

"Se der tempo..."

- fim de tarde.

Que todos os corações que sejam verdadeiros e estejam dispostos a fazer algo incrível se encontrem...

"Em uma explosão de nuvens pintadas de fim de tarde."

- minha paz.

As coisas ficaram bem confusas para mim e eu, mais uma vez, esqueci de mim... Vou em busca da minha paz e enfrentarei o que for preciso para encontrá-la! Talvez eu volte tarde...

"Talvez eu não volte nunca mais."

- casulo.

Talvez eu estivesse um pouco ausente esses dias, mas houve muita confusão em minha mente e estou colocando tudo em ordem. Eu quero e vou crescer e comecei a colocar prioridades e valores ao que realmente importa na minha vida e está decidido. Voltei para meu casulo e vou me transformar!!! Eu tinha medo de mudar, mas tive mais medo de continuar no mesmo estado que eu estava; fui com medo e tudo. Não me importa se eu perder pessoas no meio do caminho, eu tenho sido verdadeiro com todas; vai embora quem não suportar a verdade. Eu cresci e vi; não tem como desver... Sempre fui eu sozinho por mim mesmo e vou continuar sendo; ninguém vai lutar minha luta e eu estou muito melhor e muito mais completo assim!

"Meu tempo estava acabando, eu avisei, mas ninguém quis dar ouvidos..."

- é meu!

Tudo o que é meu tem uma força enorme e, com certeza, vai chegar até mim.

"Foi então que eu acalantei meu coração."

- claquete, ação!

A minha vida resolveu mudar drasticamente... tudo novo, tudo muito rápido... Pessoas indo, novas pessoas chegando, desafios cumpridos e novos sendo criados... sonhos que se realizaram que iriam demorar bastante, novos sonhos que entraram no lugar, e antigos sonhos que foram arrancados de dentro de mim com bastante força. O protagonista quase se perdeu, mas lembrou de sua fala e também lembrou que é e sempre foi o personagem principal. Sentimentos vindo, sentimentos indo, lábios se tocando, mãos se afastando, olhos se secando, cabelos coloridos, ensaios no banheiro, luzes piscando e corpos escorregando...

"Ei, socorro! Acho que o roteirista enlouqueceu de vez..."

- buzinas.

Dentro de mim, abriu-se um buraco e, dentro, havia uma dor, que durou dias e dias e mais dias e mais dias, que eu achei que nunca mais iria passar; eu queria me entregar... Até que um dia eu deixei vir tudo de uma vez, sem resistência, sem enganos, sem truques e ela veio... eu estava andando de carro e parei no meio de uma estrada com o som alto do freio que pisei e gritei, eu soquei o volante várias vezes, desci do carro, me joguei no chão, com carros vindo em minha direção e as buzinas atrás de mim estavam sendo tocadas bem altas e eu esmurrei o chão cheio de pedregulhos que destruiram minha mão direita, que precisei tirar os pedacinhos de pedra com uma pinça, porque entraram em mim, se confundindo com meu sangue e minha carne; foi bem maior que eu. As nuvens até cobriram os olhos das estrelas para elas não verem esta cena. Eu, sentado, encostado no meu carro, abracei minhas pernas e me afoguei em tudo que eu estava sentindo sem negar um sentimento se quer e me vi preso dentro de um buraco sem fundo... Eu chorei tanto que esse buraco se encheu de água e comecei a me afogar e estava pronto para dizer adeus a tudo. Foi quando eu lembrei que eu sabia nadar sozinho e empurrei meus pés, com força, no fundo desse buraco e saí para respirar. E eu percebi que cada vez que eu respirava sozinho eu me tornava mais forte. Então eu decidi deixar tudo o que eu sentia para trás de uma vez por todas e seguir em frente, nadando contra a correnteza e fazendo tudo isso somente por uma pessoa: eu mesmo. Eu estou melhorando, mas uma coisa eu te garanto:

"Eu nunca mais serei o mesmo."