Encontro-me sentado em um cantinho de uma loja de bicicleta, num ladrilho bem frio e duro que deveria estar um tanto mais confortável por passar a maior parte do meu dia aqui; ele parece bem árduo, mas eu queria poder estar em algo um tanto mais confortável para relaxar minhas costas que dói por causa da posição arcada em que me encontro. Minha sandália está caindo aos pedaços e tem muitos furos na sola, que até parece que estou calçando um papelão no pé... apesar que um papelão não seria uma má ideia , porque assim não sentiria as pedras rasgando meus pés toda vez que piso sobre uma. Minha roupa está um maltrapilho, toda manchada de café, pois minhas mãos tremem muito e não consigo, na maioria do tempo, controlá-la. Minha família fica brava comigo, mas eu não consigo fazer ela parar de tremer; algumas vezes passo fome para não sujar minha roupa, porque todo mundo parece estar muito ocupado para cuidar de mim. Meus óculos estão embaçados de tão velho; não consigo enxergar com eles e nem sem eles; pressiono meus olhos para poder melhor focar minha visão, mas tudo está turvo. Eu nem encaro muito as pessoas para não sentirem-se ofendidas... passo grande tempo com minhas mãos em meu rosto para que não me vejam. Observo as pessoas passarem, as horas passarem, os dias passarem e nada me acontece de novo. Fico feliz quando está anoitecendo e sinto cheiro da carne assando no açougue ao lado... queria poder tanto saborear aqueles espetinhos suculentos com bastante farofa, mas não tenho coragem de pedir para ninguém comprar, para não terem mais gastos comigo.
“Estou vegetando, apodrecendo, apenas esperando para ser jogado fora como um embrulho de papel velho, esquecido e empoeirado”.