terça-feira, 30 de novembro de 2021

- obrigado, filhos.

Meus filhos, o pai está escrevendo esse texto para dizer quantas lágrimas estou derramando por vocês há dois dias e o quão importantes vocês são para mim... Henry, você me ensinou o que é aceitar o próprio corpo, sem defeitos e que somos lindos, independente de qualquer padrão ridículo que nos impõe e que sempre é hora de brincar, mesmo que seja com uma galinha de borracha ou duas meias amarradas uma na outra... Que ser delicado faz parte e que comida, passeios, carinho, maçã, cenoura, banana, tomate e biscoito são sempre bem vindos, mesmo que eu faça cocô andando. Obrigado por me ensinar que eu caibo em qualquer lugar que eu queira. Thierry (eu escrevo para você soluçando, sem nenhum ar nos meus pulmões por causa do tremendo amor que eu conquistei de você) no começo eu não acreditei em nós... Você era amarrento, difícil e não aceitava meus beijos e meus carinhos, mas hoje você me conquistou de uma forma inexplicável. Obrigado por me ensinar a perseverança, a calma, a sutil arte de ser desastrado e que sempre é uma boa hora para um bom xixi, mesmo que aconteça de fazer no lugar errado e uma pata erguida expresse minha ofensa para você. Obrigado por me ensinar a ser persistente e lutar por aquilo que eu acredito, mesmo que seja empurrando com o fucinho ou fazer cocô girando sem parar, ou me puxando e gritando sem parar no meio da rua. Obrigado por me proteger em todos os dias de chuvas que estive sozinho. Obrigado vocês por todos esses anos de afeto, conquistas e amor, e obrigado por secarem minhas pernas sempre no banho. Obrigado por fazerem companhia quando eu estava só e verem todas as minhas lágrimas e alegrias sem julgamento, mesmo que fosse para dormir escondido na minha cama, enquanto eu dormia. Obrigado por acordarem dançando comigo, mesmo que fosse 4:57 da manhã. Eu queria participar da vida de vocês pra sempre, mas vocês precisaram se mudar... Obrigado. Obrigado por me defenderem de estranhos sempre que eu precisei, mesmo não tendo estranho nenhum e cuidarem da casa quando eu estava e não estava. Obrigado por me receberem sempre com muita alegria quando eu chegava do serviço, com rabinhos balançando sem parar e corridas de ansiedade por um abraço aconchegante e quentinho, mesmo no calor. Eu nunca vou me esquecer de vocês. Minha vida está completa por eu ter conhecido os dois filhos do pai, mas terá sempre dois espacinhos que são de vocês e nada nem ninguém tem a capacidade de preencher ou me fazer esquecer; e mesmo que eu tenha cem anos vividos, sempre lembrarei do fucinho de vocês. Eu amo vocês pra sempre.
"Ps: não fiquem bravos comigo e não se esqueçam de mim, por favor."

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

- pombos na praça.

O bom dia hoje foi diferente... Eu contava os segundos e o relógio parecia estar inquieto e com preguiça. Um banho, uma foto, a roupa trocada e o perfume que te inquieta. Os allstars estavam mais gastos, as pernas cansadas e um doce bem gelado nos refrescou que até seu rosto caiu sobre meu ombro com os olhos fechados, em público, com pessoas passando, mas só havia nós dois. Correndo, pulando e gritando no meio da rua com você, fez meu dia ser completo de uma forma que eu não sabia que poderia acontecer. E depois de toda a energia gasta, dois corpos, quatro pernas, dois corações e duas bocas estavam descansando sobre a grama refrescante. E ao findar da tarde, seus olhos ficaram pequenos, sua mão estava no vidro do ônibus pedindo para eu ir junto, ou para você mesmo ficar, ou para parar o tempo ali, mas nenhuma dessas coisas foram cedidas e eu não parei de te olhar, até você sumir no horizonte.
"Você poderia voltar?"

sábado, 20 de novembro de 2021

- jantar em família.

O plano era eu e você naquela noite, com aquela troca de calor que somente nós temos e ninguém sabe. Mas eles foram mudados por causa de três pessoas que alí estavam. Foi incrível. Mas nós... Ahhhh nós... Estavamos ligados, nos comunicando e fazendo amor por pensamento e olhares. Eu ouvia "eu te amo" com leitura dos seus grandes lábios e meu coração acelerava, e você via meus dentes morder meus lábios de leve, e você fechava os olhos para controlar todo o tesão que alí estava acontecendo, mas ninguém percebeu além de nós. Eu mexia com sua cabeça e você com a minha e fizemos uma orgia de sentimentos entrar e sair por nós; o suor, os olhos, a mastigação, as mãos, tudo escorregadio. E no final, limpamos nossa boca com o guardanapo descartável e cada um foi pra sua casa de barriga e desejo cheios.
"Eu adoraria viver com essa energia adolescente, que não sentia há muiiiiiiiito tempo."

terça-feira, 16 de novembro de 2021

- seu olhar.

Eu te ignorei de começo, mas depois eu te olhei. Você estava olhando lá e se virou para mim. Quando nossos olhos se encontraram eu desviei para lá e depois voltei para você e você ainda estava olhando para mim, que, quando percebeu que eu virei para você, você olhou para lá, bem rapidinho com meio sorriso em seus olhos e eu olhei para baixo com o sorriso completo nos meus.
"Perdi meu rumo."

sábado, 6 de novembro de 2021

- intruso.

Você faz a bateria do meu celular acabar bem mais rápido, faz eu sair de casa atrasado totalmente perdido das horas, faz eu lutar contra meu sono mesmo sabendo que eu precisarei acordar cedo no dia seguinte, faz eu esquecer meus documentos em casa dentro da mochila, faz eu esquecer meus acessórios que nunca esqueço e me tira do chão. Você faz eu querer dançar a todo momento no banheiro, no quarto, na sala, na rua, no ônibus, na calçada, nas estrelas, na lua. E, exatamente hoje me perguntei: "por que eu? Por que você me viu quando eu estava me sentindo totalmente invisível? Por quê?
"Pois sempre que te beijo eu fecho os olhos, pois tenho medo de altura."

terça-feira, 2 de novembro de 2021

- último texto para você.

Hoje não sou mais sua inquietude, nem seu fantasma, nem sua inspiração textual. Você se fechou e colocou uma pedra de gelo, dentro de você, como um ponto final; doeu. Eu acho que perdi o dia do nosso primeiro beijo, não sei onde procurá-lo e não pretendo isso. As promessas foram quebradas e jogadas de um alto cume, esparramadas no chão com todas as suas entranhas expostas, deixadas alí para algum animal desconhecido se alimentar dessa pouca proteína que restou. Foi bom ter você, foi bom sentir você, foi bom respirar você, foi bom me entregar para você, foi bom existir com você, foi bom o pouco "pra sempre" com você...
"Adeus ex inquilino do meu ser."