sexta-feira, 21 de outubro de 2016

- não estou mais em casa.

Estou farto dessas asas. Elas são como espelhos; não funcionam como deveriam. Queria abri-las como as de uma lagarta pós metamorfose e estar em outro lugar; eu não pertenço aqui. Queria poder acordar em outro lugar onde minha coberta são as luzes das estrelas e meu travesseiro as ondas do mar, onde nem para a direita e nem para a esquerda haveria algum rosto familiarizado; somente crocodilos e peixes vorazes (vá com calma, não quero ser devorado)... E quando menos eu perceber, olhar no horizonte um palácio cheio de luminárias acendidas a mão e minha gnose revelar que não passa de um cacto cheio de água para matar minha sedente desidratação; poeiras interiores. Pular do mais alto edifício que existir e ... nem tenho coragem disso. Não tenho coragem pra muitas coisas, desde o simples até o complexo, não vai; eu apenas tento. É como se tivesse passando do tempo e algo me puxando... um vórtice? Um furacão? As fortes ondas? Ah... como queria deitar nessas ondas salgadas e inconvenientes...
"E até minhas penas estão caindo por não alimentá-las mais."

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

- de olhos fechados.

Tudo parece estar meio confuso. Ouço vozes distorcidas de fundo e alguns bipes soando ordenadamente, sem se atrasarem. Minha mente está meio confusa, mas sei que algo aconteceu... sim.... aconteceu... estou deitado e não consigo abrir meus olhos, apenas minha mente está buscando decifrar o meu arredor. Bem... eu me lembro... que estava andando de carro, tarde da noite... cheiro... sim... estava bebendo alguma coisa forte, acho que era gym, não tenho certeza. Eu... estava triste com minha vida e queria esquecer tudo me afogando em um copo de... alguma bebida forte.... gym... eu acho que era gym... repentinamente sinto uma forte pressão e vejo várias luzes, vermelhas e azuis passando diante de meus olhos entreabertos, e eu estava meio curvado dentro do carro... fumaça... o pouco de olfato que tive senti cheiro forte de fumaça e meus braços estavam sangrando... o que será que aconteceu comigo? Não estou sentindo dor alguma... só estou desajeitado e envergonhado com tanta gente bem vestida ao meu redor olhando pra mim, tentando me tirar de dentro do meu carro... "eu não preciso de ajuda pra sair do meu próprio carro!" Mas as palavras não queriam sair... Estou com um zunido sem fim no ouvido, mas tenho quase certeza que pude ouvir uma sirene e alguém pedindo uma maca e soro, quem será que se machucou? Será que foi grave? Espero que não. Minha cabeça está doendo demais e não me sinto muito forte, e... minha.... vista... está... se... apagan............ Espera... estou deitado num hospital... sim!!! Eu sei quem sou e o que aconteceu comigo. Por que não posso me mexer? Por que não posso abrir os olhos? Por que ouço tanta gente chorando ao meu lado? Será que... eu... não! Não pode ser. Eu estou morrendo. Sim.... estou morrendo e não há mais nada que possam fazer por mim. Ah... como eu queria passar mais tempo com meus filhos ao invés de trabalhar tanto... Como eu queria ter feito aquela tatuagem de tribal no bíceps... Como eu queria ter comido aquele camarão frito que estava com tanta vontade, naquele restaurante caríssimo do centro... Como eu queria ter abraçado mais meus amigos e dito coisas que guardei pra mim por vergonha... Como eu queria ter deixado minha mulher em casa com um "eu te amo", ao invés de um "você só reclama da vida"... Como eu queria ter brincado a última vez com meu cãozinho, ao invés de gritar com ele por ele ter mastigado a ponta do meu chinelo favorito... Como eu queria ter pulado de paraquedas, para sentir a brisa do céu bem de perto em meu rosto... Como eu queria ficar só mais cinco minutos naquele banho bem quente sem me preocupar com a conta de água... Como eu queria ter voado de avião para tocar as nuvens através do vidro... Como eu queria chupar aquele sorvete de doce de leite com castanhas, no qual sempre o trocava por abacaxi com coco... Como eu queria estar com gosto de menta em minha boca ao invés de gym com sangue... Como eu queria gritar no meio do nada, onde ninguém pudesse me ouvir... Como eu queria mais uma chance... levantar dessa maca.... e .... apenas... dar um... pulo... de ale...gri..a..... Como... eu quer...ia.... a... úl...ti...ma... ch...an...ce..........
"Foi quando o médico anotou a hora no papel e desligou todas as máquinas que me davam ar."