quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

- na companhia da solidão.


Já não sei em que data estamos, pois não tenho mais calendários. Em minha mente, as datas estão todas confusas. Parei de contar os dias. Estou a cada segundo envelhecendo, morrendo... estou me apagando. Queria que fosse meu aniversário pra levantar e comemorar mas minhas costas dóem. Não conheço ninguém que comemoraria comigo ou ao menos me fizesse um bolo, pois, preciso de ajuda, já que perdi a prática de cozinhar como quando era mais novo. Há muito tempo tenho a intenção de voltar a escrever, porém passo semanas procurando um lápis e quando o encontro, logo esqueço de onde o guardei. As pessoas na rua não me ouvem e nem me veem mais. Noutro dia estava caminhando e pedi para uma moça me ajudar a chegar ao outro lado da rua pois não tenho tanta força para caminhar e ela continuou andando sem ao menos olhar pra mim. Então fico horas esperando alguém vir e me ajudar,queria muito chegar do outro lado, pois faz tempo que não saboreio o café da padaria que fica outro lado da rua, mas ninguém aparece. Certa vez numa reunião com uns antigos amigos, tão ou igualmente velhos como eu, havia uma grande agitação, pois passaríamos um dia no campo jogando cartas e comendo guloseimas que o recreador prepararia para nós. Mal podia esperar pra comer pão de queijo quentinho com margarina! No sábado, acordei animado às 4 horas da manhã, pois a vã sairia às 9 horas, mas como estou velho, tardo para arrumar minhas coisas e queria pegar cada item com calma. Saio de casa as 7 e meia, porque demoro para chegar na rua de trás. Quando estava chegando vi que a vã estava cheia. Eis que me animei ainda mais. Uma algazarra sem fim vai ficando silenciosa a cada centímetro que a vã estava andando e eu não pude gritar para me esperarem porque já não tenho tanta força na voz. Foi quando percebi que eles haviam partido sem mim. Eu não fui convidado? Talvez eu não caberia na vã... então, cansado, aguardei sentado num banco de madeira até minha fadiga passar. Me coração encolheu e minha face estremeceu, como quando a gente tem que engolir a vontade de chorar. Eu os entendo, pois que culpa eles tem de que eu me tornei invisível? 65 anos passou desesperadamente muito rápido. Lembro-me de quando eu tinha 18 anos... Ah... tudo era mais fácil: Meus pais me apoiando, não tendo muitas responsabilidades, divertindo-me e sendo feliz com amigos!!! Lembro-me também do amor da minha vida. Nunca pude esquecer sequer um traço de seu rosto, cada palavra, cada emoção, cada sentimento, cada dificuldade... Como todo jovem, eu sonhava em ser feliz ao lado de um amor. Meus pensamentos estavam em você o tempo todo, até em meus sonhos, e mesmo quando fechava os olhos era sua imagem que vinha. Contava cada segundo com alegria para te ver novamente, para te abraçar e sentir seu abraço, mas não um abraço qualquer... aquele abraço que somente você poderia me dar e que até hoje, ninguém conseguiu superar; eu ainda sinto-o. Não gostava de quando me falava que eu merecia algo melhor, pois tudo que eu precisava, tudo que eu sempre desejei eu tinha ao meu lado. Lembro que eu sempre dizia que você seria o único amor da minha vida, e que eu jamais me apaixonaria por um outro alguém, porque você me conquistou diferentemente de qualquer um, com seu jeito difícil, porém doce. E você sempre ria disso, dizendo que os dias passariam e, as coisas seriam esquecidas quando eram pra serem esquecidas, ferindo-me um pouquinho mais. Dizia também que um dia ou outro eu me apaixonaria por um outro alguém um tanto menos frio, e que me faria mais feliz... não sabes quanto meu coração se apertava quando dizia isso. Diga-me que não dirá mais isso, me prometa... prometa que será pra sempre?! O pior de tudo foi acreditar que você poderia me dar o que prometeu. Teria sido bom, mas não foi. E agora fico aqui como alguém que morreu. Minhas lágrimas não saem mais, num volto de solidão e vazio, mas sempre me pego de surpresa com lágrimas levemente caindo dos meus olhos. Até hoje tenho aquela camiseta que me destes. Lembro-me que quando me presenteou com ela, disse que quando sentisse sua falta, era para vestir, ou então simplesmente olhar pra ela, que lá você estaria. Isso você cumpriu, porque até hoje, quando olho pra camiseta, é seus olhos que vejo, sua boca que me alimenta, seu cheiro que sinto. Entristeço-me e permito-me morrer, porque até hoje não pude me apaixonar novamente. Não que eu não tenha tentado, mas quando eu tentava me relacionar, beijando de olhos fechados, seu gosto e seu corpo eu sentia. Não podia continuar me enganando. Você foi a única pessoa que roubaste meu coração, e levou embora, para que eu não pudesse amar de novo? Talvez não, ou não de propósito. Espero que esteja feliz ao lado de seu novo amor e que ele te ame o quanto eu te amei e ainda te amo... Hoje ouço apenas o silêncio, minhas tristes alegrias, meus dias vãos, contando os dias e te esperando pelos cantos, chamando seu nome

Nenhum comentário:

Postar um comentário